22.10.12

O Círculo Mágico da Arte - Preparação para uma Conjuração (Parte 4)

Quase todos os Magos gostam de Círculos. E isso deve-se ao facto de eles terem sido usados, suspeita-se, muito antes do aparecimento dos primeiros registos escritos acerca da Magia para protecção, isolamento, contenção, ou simplesmente para marcar um limite de espaço num Ritual de Magia. O Círculo da Arte é crucial para a Magia de Conjuração, como podemos ver nos clássicos da Magia (Clavicula Salomonis, Heptameron, Grimoiriuns). Esta tradição mágica acabou por ter impacto na própria cultura, onde se pode ver influências em videojogos, filmes e arte. Apesar dessas aparências nas imagens culturais, as pessoas não têm em mente que o Círculo Mágico é uma ferramenta importante usada no Ritual para protecção e contenção de um espaço consagrado.

Por causa disso, e em verdade, os Círculos Mágicos não precisam de ser muito complexos. Tanto que, em teoria, um simples anel à volta do Mago durante o Rito de Conjuração, feito com terra e purificado com Sal Consagrado, seria suficiente para todos os intentos e objectivos. Em alguns casos na tradição hermética, podem ser usados também na consagração do Círculo voces magicae «vozes de poder». Quem pratica Wicca pode usar um círculo com velas ou com corda.

Contudo, os Magos que seguem as Artes Negras, ou também conhecidos como Magos Goetic (como eu), que se dedicam à Conjuração de Persuasão Demoníaca do Lemegeton, seguem o modelo completo do Círculo de Salomão. Isto, porque o efeito é muito mais forte, coisa que se deve por se incluir todos os desenhos geométricos, nomes das entidades, forças e consagrações.

Um tal círculo, é preferível para espaços onde se vão realizar trabalhos permanentes ou para carpetes, lonas, plataformas que possam ser transportadas de local para local.

No próximo post vou mostrar um dos primeiros círculos que usei, quando me iniciei nas Artes Mágicas.

Bom, então para a preparação de uma Conjuração o Mago irá ter de preparar o Círculo onde vai acontecer o Ritual Mágico. O que está prescrito nas Clavículas é um círculo com cerca de três metros de diâmetro. Porém, não é necessário fazer algo tão grande, pelos menos quando alguém se inicia nas Artes Negras.

Existem muitos desenhos nos Clássicos da Magia sobre Círculos, aqui vou apresentar o que segui quando comecei a lidar com as Artes Negras.


Para se construir o círculo começa-se por fazer dois círculos um sobre o outro. No anel entre os círculos escreve-se os nomes das entidades que governam cada ponto cardinal. Neste caso, aqui é Agla para o este, Adonai para o Sul, Eheieh para Oeste e Eloah para o Norte. Estes nomes representam as entidades para os quatro elementos, governadores dos cardinais segundo Agrippa. Segundo ele:
  • Agla (אגלא), é a contracção de Ateh Gibor Le-Olam Amen, e está associado ao Fogo através da palavra do poder «Gibor».
  • Adonai (אדני) está associado com a Terra através do nome da entidade «Malkuth, Adonai ha-Aretz».
  • Eheieh (אהיה) está associado com o Ar e relacionada com a entidade de puro espírito «Kether».
  • Eloah (אלוה) está associado com a Água através das duas primeiras letras «El (אל)» da entidade a Norte.

Neste esquema, todos os nomes das Entidades estão no círculo exterior e têm quatro letras, começando com a letra aleph (א), o que mostra uma harmonia entre todos os elementos e direcções juntos num tipo de unidade espacial e espiritual. Neste esquema pode ser omitido o uso do Tetragrammaton, especialmente visto que raramente deve ser mencionado (mas poucas vezes é omitido), para além de que o Tetragrammaton já tem implícitos os quatro elementos, coisa que está explícita neste Círculo, pelo que pode ser dispensado.

Dentro do círculo, existe um diamante (losango) onde o Mago deve se posicionar, com uma cruz no seu interior, com uma letra do Tetragrammaton em cada ponta da cruz. Os cantos do diamante, a cruz e as letras do Tetragrammaton estão alinhados para as suas direcções e elementos próprios (yod para este e fogo, heh para sul e terra, vav para oeste e Ar, e o outro tipo de heh para norte e água).

O círculo interior pode ser considerado como as fronteiras para o mundo celestial, e o diamante as fronteiras para o mundo terrestre. Fora do diamante e alinhado com cada uma das quatro direcções estão quatro hexagramas, que são conhecidos por terem qualidades de protecção e de expulsão contra energias perigosas. Contudo, ao contrário do estilo de hexagramas das Clavículas que têm as letras da palavra Adonai escritas à sua volta com a cruz grega Tau no meio, este círculo possui a estrela de azot (influência da magia renascentista).
 

Este hexagrama fonte da influência renascentista na Magia, que muitas vezes em português existe a tentação de traduzir por Azoto, mas que deveria ser traduzido por Azote, e que aqui prefiro usar um termo intermédio com Azot, é uma palavra muito poderosa, que vem da alquimia para se referir aos espíritos essenciais de todas as coisas, a razão suprema, e a acção que determina todas as coisas em todas as realidades. Além disso, pode ser formado por quatro letras dos três grandes alfabetos usados no Ocultismo:
  • A para aleph (א), alfa, ou ay, a primeira letra do alfabeto de origem pré-fenícia.
  • Z para zed, a última letra do alfabeto latino.
  • O para omega (Ω), a última letra do alfabeto grego.
  • T para tav (ת), a última letra do alfabeto hebraico.
Deste modo, nós temos o princípio e o fim de todas as coisas, combinados numa única unidade «Azot»(אZΩת).  Tem uma significado similar, desta maneira com a frase: «[EGO] ALPHA ET OMEGA», contudo devo confessar que essa frase me incomoda porque é estranho ver os nomes das letras gregas pronunciadas em Latim. Contudo, apesar disso, o importante é que este hexagrama possui uma simetria excepcional, pois pode representar os sete planetas como podemos ver:


Por conseguinte, tudo isto resulta num Círculo Mágico forte e harmonioso que se presta a quem começa a lidar com as Artes. Contudo, e fica o aviso, este Círculo não deve ser usado para Alta Magia Negra, pois o Mago não está suficientemente protegido para aquilo com irá ter de enfrentar. Para mim, este círculo é bom para a formação prática do Mago, e para pequenos trabalhos. De vez em quando recorro a ele, por ser simples, para trabalhos simples. Mas nunca para muitas lides infernais. Além do mais, este círculo combina a representação dos elementos, dos planetas, das entidades, com o Mago estando no centro de tudo. Com o processo de elaboração do círculo, falta juntar uma outra dimensão, a saber, a força operativa ou uma «quinta essência» que junta todas as forças do Cosmos, isto é, o próprio Mago. No próximo post explico e mostro fotos do meu processo de elaboração deste círculo quando me iniciei, contudo deixo aqui uma imagem do círculo que agora uso para Magia Negra, mas para conjurações cerimoniais que posso fazer entre quatro paredes.



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