Tendo visto de forma simples a história da Amarração ou da Magia do Amor na Grécia Antiga, iremos agora avançar para o período medieval e renascentista. Com respeito ao último post perguntaram-me sobre a mesma Magia no mesmo periodo histórico mas noutras culturas, nomeadamente nas culturas Orientais. Aproveito agora para responder que infelizmente apenas sei coisas soltas sobre as velhas tradições Mágicas Orientais. Nunca me debrucei muito sobre essas tradições Mágicas. Tenho alguns bons livros sobre essas tradições, que mal tenha um pouco mais de tempo irei colocar à disposição para Download. Assim como não tão oriental mas próximo do Médio Oriente, irei colocar fontes das tradições Persas e Mesopotâneas, que foram em parte quem trouxe muitos conhecimentos Mágicos para a Grécia.
Por uma questão de simplificação vamos considerar a Idade Média como tendo ínicio após a Queda de Roma no ano de 476dc e tendo o seu fim com a queda de Constantinopla em 1453. Também por simplificação vamos considerar o Renascimento como o período que vai desde a queda de Constatinopla até ao século XVII. Logo neste post vamos cobrir este período histórico.
Infelizmente desde a Queda de Roma até ao Renascimento, sendo que este último foi um dos periodos mais férteis da História da Magia, assiste-se a uma carência de informação sobre a transição dos Ritos Mágicos Helénicos até aos Ritos Mágicos Renascentistas que são aqueles que tomam a forma mais similar com aquilo que hoje em dia se pratica. Aquilo que temos actualmente ao nosso dispor são pontas soltas. Contudo, essas pontas soltas são em número suficiente para termos uma boa imagem da História da Magia do Amor durante aquele período.
Durante o período da Idade Média, poucos eram aqueles que sabiam ler e escrever, por causa disso muitas das informações que temos vêem da parte de membros da Igreja Católica que praticavam Magia Cerimonial. Por isso, em parte o que sabemos vem destas fontes.
No que diz respeito às Amarrações e à Magia do Amor, observamos que existem algumas coisas que se mantêm desde o período Helénico e outras que se alteram. Como havia mencionado no post anterior, novamente as mulheres são victímas do estereótipo e mito de serem as responsáveis pela práctica e desenvolvimento deste tipo de Magia.
Por outro lado, um impulso dado nos Ritos de Amarração ou de Magia do
Amor acontece com a obra de São Cipriano, onde começa a surgir uma
sistematização de vários Ritos Gregos e Egípcios, tendo como fim último a
Amarração de Ágape, aquela que é similar ao entendimento comum de hoje
em dia. E é com base nesta sistematização de São Cipriano que
encontramos vários ritos e notas ao longo da subsequente história
medieval, como por exemplo a do Monge Alemão Jonas Sufurino no ano de
1001.
Ao mesmo tempo, observa-se a um renovamento da
Amarração de Eros, tendo o fim último de apenas se alcançar relações sexuais.
Estes ritos ganham nova forma na Idade Média, e os seus relatos e ritos
escritos dizem respeito a Monges e membros do Clero Católico.
Poder-se-ia dizer que o fim último destes ao recorrerem a este tipo de
Magia era o de Flertarem (perdoem-me o neologismo). É interessante
observar que este uso da Magia de Amor surge num contexto muito diferente daquele donde
teve a sua origem. Em certos estratos e pontos da Cultura Grega assistia-se a
uma liberalização da sexualidade sendo nesse contexto o surgimento de vários
relatos da Amarração de Eros. O que agora é curioso na Idade Média
Cristã é o ressurgimento e reforço desta prática Mágica, mas agora num contexto em que a
sexualidade é reprimida.
É interessante também se observar que a Amarração ou a Magia do Amor é um dos princípais alvos por parte da Inquisição sobre quem pratica as Artes, como se observa numa nota de 1627 em Veneza por parte do tribunal da Inquisição. Para mais detalhes pode-se ver no seguinte livro nas páginas 80-82, basta carregar no link: «Davies, O - Grimoires: A History of Magic Books. Oxford: Oxford University Press, 2009»
Contudo, deste último ponto é importante salientar que surge um novo tipo de Amarração, ou mais precisamente, não um novo tipo mas uma nova finalidade. A ideia que hoje temos de casamento (ou matrimónio num paradigma cristão), tem a sua origem com a evolução do cristianismo. Por isso, na Idade Média começa-se a assistir a amarrações com o objectivo último de salvar casamentos. Apesar de a questão do divórcio ser quase nula durante aquele período, o objectivo era salvar a relação e não evitar o divórcio como infelizmente hoje acontece. Um desses relatos, chega-nos de uma Maga (ou Bruxa para quem preferir) de nome Elisabete que procura recuperar a relação amorosa com o seu marido Teodorico. Contudo, como anteriormente havia referido não eram só as mulheres que praticavam a Amarração, mas os homens igualmente o faziam. Para mais detalhes sobre este tema, recomendo a leitura da página 187-188 do seguinte livro, basta carregar no link: «LÁNG, B. - Unlocked Books: Manuscripts of Learned Magic in the Medieval Libraries of Central Europe. University Park: Pennsylvania State University Press, 2008».
Ao mesmo tempo, começa-se a observar o uso da antiga Amarração Grega baseada na Philia (que expliquei no post anterior), a saber, uma amarração para criar um vínculo de amizade, mas desta vez com fins políticos. Existem relatos de que o Rei Polaco Augustine Sigismund (1520-1572), seria alvo deste tipo de trabalhos para se obter favores políticos com recurso a influências femininas. Para se ver fontes diversificadas sobre este tema basta carregar neste link: «Brzeżinska, A. - “Female Control of Dynastic Politics in Sixteenth-Century Poland"». E neste link: «Brzeżinska, A. - “Political Significance of Love Magic Accusations at the Jagiellonian Court”»
Então, deixa de ser praticada a Amarração de Afectos com o fim de «suavizar os corações» ou «ligar o que anda distante» para ser agora uma forma de vínculo a melhor se conseguir algo de um determinado alvo.
É no final do Renascimento com o surgimento dos Grimoriuns (com a forma actual com que se apresentam) que as Amarrações ou Magia do Amor foram consolidadas.
Muito mais haveria para se dizer sobre este e o período da Antiguidade Clássica. Contudo, estes posts procuram ser simples. Em princípio não irei tratar o periodo histórico subsequente até aos nossos dias, visto já serem muito similares com o que hoje praticamos. Para mais informações este próximo livro também é interessante, basta carregar no link: «SZEGHYOVA, B. - The Roles of Magic in the Past. Bratislava: Pro Historia, 2005».
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