A Magia Hermética engloba um sistema teorético, teológico, filosófico e de prática Mágica completos. Se se pode dizer que a Magia encontra aqui o seu ponto de início, ou de origem no sentido clássico da palavra, esta deriva de fontes Greco-Egípcias. Como referiu o Dr. Flowers, a magia presente nos papiros egípcios é a primeira tentativa conhecida de fundir várias formas de tradições mágicas de muitas fontes diferentes desde o mediterrâneo aos povos do leste, integrando-as para formar um só sistema (Cf., FLOWERS, S. - Hermetic Magic: The Postmodern Papyrus of Abaris. Nova Iorque: Weiser, 1995, pp. 19-20). A análise rigorosa deste autor revela que o sistema ecléctico resultante do contributo Greco-Egípcio retinha traços significativos dos seus componentes originais; chaves usadas para estender este sistema mágico em outros sistemas mágicos durante o tempo. Não só são as acções rituais encontradas no sistema Greco-Egípcio fortemente reflectidas nos seis sistemas Mágicos mais tardios (aqueles que classificámos na parte anterior deste artigo no blogue), mas os seus padrões de pensamento e filosofia encontram-se reflectidos em todas as correntes de magia.
O Dr. Flowers ilustra perfeitamente este ponto na sua construção e interpretação da árvore cosmográfica grega (Cf., FLOWERS, S. - Hermetic Magic: The Postmodern Papyrus of Abaris. Nova Iorque: Weiser, 1985, pp. 47-54). Esta é uma versão pagã da mais tardia tradição da Cabala Hebraica, tão conhecida nos dias de hoje, e sob a qual muitas das contemporâneas correntes mágicas são edificadas. Contudo, esta árvore cosmográfica tem a sua origem na chamada Cosmologia Neo-Platónica (Num outro post sobre Filosofia da Magia Negra iremos desenvolver estes traços da filosofia que têm origem em Platão e se estendem no início do Cristianismo).
Como a sua contra parte Hebraica, que foi usada como um molde para se edificar as dez esferas de qualidades, e os vinte e dois caminhos das projecções dessas qualidades no mundo da mente e da matéria. E, como na Cabala ocidental que é baseada na Cabala Hebraica original, este glifo pagão tem atribuições de caminhos e ligações entre as suas dez esferas ou «Sephiroths». Podemos encontrar até bem mais importante, que mesmo um estudo casual deste forma inicial pagã revela diferentes ligações dos caminhos entre as esferas e aqueles que são usados na versão ocidental. Isto imediatamente sugere outras forças, ou outras interacções entre espíritos, na medida em que possivelmente, estes estendem o alcance da árvore da vida da Cabala num novo ritual e cerimónias, muito para além do que é hoje em dia conhecido, mesmo nas sociedades contemporâneas das Artes Negras.
Outro aspecto de vital importância em compreender o lado prático da Magia Hermética, é o intitulado papiro Mágico traduzido pelo Prof. Hans Betz. Este é um trabalho académico, no sentido verdadeiro da palavra, sendo uma apresentação aprofundada de um grande número de feitiços mágicos e fórmulas derivadas directamente de papiros originais Greco-Egipcíos (Cf., BETZ, H. - The Greek Magical Papyrus: including the Demotic Spells. Chicago: The University of Chicago Press, 1986.) Como tal, é uma obra de valor incalculável para aquele que hoje se dedica às Artes Negras, mesmo que tenha sido usado principalmente para os académicos que estudam a história das religiões e a fenomenologia da experiência religiosa.
A verdade pura e dura, é que muitas das correntes Mágicas que hoje em dia empregam no seu uso a palavra Hermética, são na sua grande maioria, desconhecedoras da origem da palavra, da sua filosofia e conceitos, já para não falar das suas cerimónias. A razão para isto é que as fórmulas mágicas e feitiços presentes nos papiros, não foram descobertas e estudadas na Europa Ocidental até aos primeiros anos do séc. XIX, e que receberam especial atenção nos anos subsequentes.
Continua...
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